22 de maio de 2009

Sobre o Pecado

Falar de pecado, falar do pecador, e de tudo que envolve essa palavra, é quase regra geral entre nós, o povo crente. A graça está aí, disponível a todos, mas parece haver um fascínio que atrai o “pecado” a nossa boca, mais do que a apaixonante Graça de Deus nos atrai. Penso que isso se dá pelo próprio desconhecimento da verdadeira graça, que é como a paz, excede todo o nosso entendimento. A graça vai além do nosso esforço por entendê-la, pois a graça não veio para dar entendimento, mas para trazer gosto a essa vida insossa pelo pecado. Paradoxalmente, o assunto de hoje é pecado. Não quero falar como quem procura encontrá-lo em outros, mas quero falar sobre o mau entendimento do mesmo em nossos dias. Falando assim, quem sabe não encontro graça no caminho.
Para nós cristãos, muita coisa é pecado, e quase nada sobra que não seja. É por isso que até hoje existem aqueles que buscam encontrar a Deus se isolando do “mundo”, pois estando no “mundo”, tudo é pecado; logo, tudo os afasta de Deus. Nem tudo é pecado, e muito dos pecados falados, só se encontram na mente dos crentes que assim o enxergam, perdendo a oportunidade de viver tais coisas como bênçãos de Deus. Antes de ir fundo no assunto, só um parêntese.
Essa generalização do pecado, e essa preocupação quanto ao pseudo-pecado cometido pelo “irmão”, é, sem dúvida, demoníaca. Há tantos trechos na palavra que alertam sobre esse tipo de crente que levanta o dedo, ou em seu interior julga ao seu irmão, que se faz até desnecessário apresentar aqui. Mas para que não fiquemos sem nenhum embasamento bíblico, trago a memória do leitor as palavras do apóstolo Paulo, quando diz: “Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus” (Romanos 14:10). Que nós possamos deixar nossos irmãos em paz! Se há pecados sendo cometidos por eles, e estes pecados não atingem o corpo de Cristo por inteiro, mas apenas afeta ao próprio “infrator”, que ele possa ver em nós, modelos de Cristo que somos: as boas obras, o bom proceder, o falar manso e compassivo, o amor para com todos, e assim seja convencido pelo Espírito da Verdade que as suas ações não correspondem com aquilo que ele diz ser. É interessante lembrar que Jesus não falou sobre pecado com nenhum pecador, mas apenas a sua presença pura e santa, causava nos “pecadores” um constrangimento, de sorte que aquela mulher adultera, que é descrita nos evangelhos, se lança ao pés de Jesus em profunda prostração e reconhecimento de que ele era o Santo, e de que ela era a pecadora necessitada de redenção.
O pecado é um mal para o homem, e Deus só se incomoda com ele, porque se incomoda com a dor e com o mal que este causará ao homem. Por amar de tal forma é que Deus repudia o pecado e todo mal que ele acarretará. João diz que se alguém disser que não tem pecado, engana-se a si mesmo. Não há perfeição em nós. Buscamos a perfeição a cada dia, possivelmente poderemos até ter grandes progressos, mas só seremos perfeitos quando aquele que é perfeito vier. Enquanto isso não acontece, continuaremos errando o alvo algumas vezes.
Esse é o tempo da graça, onde Deus se derrama ao homem, sem que este tenha o menor merecimento. Deus faz assim porque ele é misericordioso, bondoso e amoroso. Não tem nada a ver com o que somos, mas com o que Deus é. Deus não está aqui entre nós para apontar o dedo acusador e se revoltar com as nossas atitudes. Com as nossas más atitudes ele apenas chora! Jesus não veio para acusar, mas para perdoar, libertar e salvar. Quando estamos envolvidos com o pecado, praticando o pecado como quem pratica um esporte olímpico (1 João 3:9); quando entramos no lamaçal do pecado, não é Deus quem se afasta, quem deixa de ouvir ou de atender as nossas orações, na verdade, nós é que não o buscamos mais como antes. Deus é Pai, e qual o pai que não acolhe o seu filho quando ele mais precisa? Se alguém, mesmo estando no pecado, encontra forças para com um coração sincero entrar na presença de Deus, eu não tenho dúvidas de que o meu Deus o levantará e o lavará com o sangue de Jesus.
Somos pecadores ou é possível que venhamos a pecar por termos recebido por herança na nossa carne os frutos do pecado de Adão. Porém, somos libertos e perdoados dos nossos pecados por conta dos frutos do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Nele, recebemos a redenção e a herança como irmãos co-herdeiros. Essa redenção só é recebida quando aceitamos como verdade absoluta que Cristo é o filho de Deus que veio à Terra a fim de livrar o homem da sentença de morte que já estava proferida; e quando glorificamos ao Cristo ressurreto, que prevaleceu sobre a morte e se encontra à direita do Deus-Pai.
Quando Jesus habita em nós, há mudanças de atitudes. Se não houver mudanças, então Jesus ainda não foi aceito (1 Coríntios 5:17). O pecado praticado anteriormente nos causa repúdio, agora. Enquanto novas criaturas, vamos sendo aperfeiçoados dia após dia. Melhoramos como filhos, como pais, como irmãos, como netos, como sobrinhos, como primos, como amigos, como profissionais; enfim, como cidadãos desse mundo. Esse processo regenerativo, de retirar as más obras pelas boas obras, é contínuo e permanente, até o dia em que aquele que é perfeito vier e nos tornar perfeitos a semelhança dele. O nosso corpo ainda é corruptível, é passível de pecado; todavia, quando Jesus voltar para buscar a sua igreja, este corpo se revestirá de incorruptibilidade (1 Coríntios 15:53), e não se achará maldade no homem.
Nesse dia, o melhor dos mundos surgirá de uma vez para sempre. Esse dia ainda não chegou, nós crentes aguardamos com perseverança; porém, no dia que se chama hoje: o pecado ainda bate a porta, e algumas vezes abrimos a porta para que ele entre. E agora, o que fazer? O apóstolo João ensina: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 João 1:9). Basta confessar com sinceridade, rasgar o coração diante de Deus quantas vezes forem necessárias, e ele irá lançar os nossos pecados no mar do esquecimento. “Quanto dista o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões” (Salmo 103:12). É justamente nesse ponto que está a diferença entre os que são de Deus e os que não são. Reconhecer o pecado para obter reconciliação com Deus, essa é a diferença. O que não é aceitável para os que estão com Deus é viver deliberadamente pecando. Deliberar é decidir, resolver, optar pelo pecado com plena consciência do mal que este nos acarreta. Isto não é aceitável, e para estes a palavra diz, no livro de Hebreus 10:26, que: “já não resta sacrifício pelos pecados”, ou seja, estes não poderão ser remidos, pelo contrário, receberão um “severo castigo”, pois tripudiaram do Espírito da Graça.
Somos pecadores porque eventualmente pecamos, mas não vivemos no pecado e nem somos escravizados por ele. A graça de Deus já nos libertou e agora somos servos de um Senhor que não escraviza, mas que conhece o pecador e ainda assim o ama.
Uma última palavra: Não podemos “namorar” com o pecado, mas na nossa condição atual, “ficar” é inevitável. Setenta vezes sete, é a quantidade que devemos perdoar. Se é a quantidade de perdão, também pode ser a de arrependimento. Todas as vezes que “ficar”, se arrependa, e ame apenas ao único que é digno.