29 de novembro de 2008

Amor Presenteado

Estou vivo, e não por um acaso qualquer, mas por propósitos divinos. Isso é incrível! Eu, sem nada ter feito para que me fosse acrescentado ou diminuído, mesmo antes de existir, sou fruto de um presente existencial. E não apenas um presente, não assim como quem cria um robô e lhe submete aos seus comandos, mas com a prerrogativa de ser semelhante ao Criador, assim como um fruto do seu amor incondicional. E é sobre esses dois atributos de Deus, Presentear e Amar, que quero manifestar a minha concisa opinião.
Quando entendemos que em nós não existe bondade que seja propriamente nossa; no momento em que a razão chega ao centro da alma, nos fazendo perceber que o bem que fazemos na verdade advém de um Bem Excelentemente Maior, aí começamos a agir na mesma amplitude de pensamento com que fomos criados. Porque Deus não amou o mundo de tal maneira, por estar o mundo prontinho para ser amado, Deus amou porque Ee ama, pura e simplesmente! Nós devemos amar porque alguém amou primeiro, e devemos ser semelhantes a Ele em amor.
Tentando trazer a idéia para a forma mais simples e prática do nosso viver, é que será descrito agora. Quando se deseja presentear alguém, utilizamos o dinheiro para comprar o presente. Claro que existem presentes que não precisam ser adquiridos na forma pecuniária, mas apenas como exemplo, será mantido dessa maneira. Em algumas ocasiões, faz-se do dinheiro o próprio presente; mas ainda que este seja indispensável, o dinheiro não é o presente, ou não deveria ser. O dinheiro depende de circunstâncias externas para ser obtido, das quais são exemplos: bom emprego, habilidades empreendedorísticas, heranças, doações, transferências, etc. Porém, o verdadeiro presente é manifesto interiormente, e independe de circunstâncias. O presente visível é apenas o símbolo do presente que se esconde por dentro. Dou porque dou. Presenteio porque presenteio. Se assim não fosse, dependeria sempre de um tapinha nas costas, de um papo legal, de um sorriso mesmo que amargo.
O presenteador pode ser, e na verdade poucos são de fato, sensíveis ao amor. È o único lastro que valida um presente sincero. Sendo que, esse amor falado não é o que provém do presenteado, mas do próprio presenteador. Se dependendo do amor do presenteado para presentear, já não é interno e sim externo, logo, falta verdade nele, ainda que no presente não falte nada. O presente-amor tem parâmetro. Jesus é o nosso presente-amor dado pelo Pai, e é mais do que isso, Ele é amor-presente, amor conosco, Emanuel. Esse Jesus embalado para presente, foi dado pelo Deus que é Pai, a uma humanidade decaída que não conhece o que é amor. Deus olhou pra dentro dEle quando quis presentear; ai de nós se ele olhasse pra fora!
Um presente não vale 200, 300 ou 1000 unidades monetárias. Penso que vale sempre muito mais do que isso. O presente é do valor do meu amor. Então tem muito valor, pois esse amor vem de Deus, e tudo que é dEle vale muito. Quando presenteio, não espero a reação do presenteado, espero a minha reação. Se eu não sinto que o presente é amor totalmente derramado, então dou mais um pouco, para que de mim fluam rios de amor-presenteado.
O Natal está chegando, e talvez essa seja a época do ano onde mais se presenteia. Que nós possamos refletir sobre isso. Presenteando e amando, e amando presentear, afinal: de graça recebemos toda Graça derramada na cruz!

28 de novembro de 2008

Quanto vale uma promessa de Deus?

Houve um tempo (não muito distante) em que a palavra de um homem valia mais do que um contrato assinado e registrado em cartório. Ao dizer algo ou ao prometer alguma coisa, ele estaria comprometido com a outra parte pela sua prória palavra a cumprir o que fora acertado. E ponto final. Homens de caráter nobre sabem a importância de suas declarações, pois neles há uma obrigação moral interna que os constrangem até que realizem o que foi dito. Se seres humanos, imperfeitos e corrompíveis, são capazes de ir a extremos (quando querem, lógico) para que suas palavras sejam dignas de confiança e credibilidade, imaginem a validade das declarações do Deus Todo-Poderoso, o nosso "molde de fabricação" (Gn 1:26,27), Perfeito e sempre Fiel, independente de sermos ou não fiéis para com Ele? (2Tm 2:13). As bençãos do Senhor são também promessas cumpridas por alguém que nunca deixa sua palavra "no vácuo" (Is 55:10,11). E eu sempre gostei de uma passagem na Bíblia que trata de uma benção de Deus, uma promessa enorme e riquíssima, mas que foi jogada fora por motivos tão pequenos e passageiros, os quais, infelizmente, ainda hoje nos fazem "balançar"; é a história de Jacó e Esaú.
Jacó e Esaú eram filhos de Isaque com Rebeca. Eram gêmeos, e tudo indica que eram bivitelinos, ou seja, "gêmeos falsos", daqueles que um não tem nada a ver com o outro, porque um era muito peludo e o outro não era (Gn 27:11). Desde o ventre já brigavam entre si, e o Senhor disse a Rebeca que era porque eles formariam dois povos diferentes. Esaú saiu primeiro do ventre e por isso tinha o "status" de ser o mais velho, o primogênito, aquele que receberia a benção do seu velho pai e seria enormemente abençoado pelo Senhor por toda a vida. Jacó veio depois, agarrado no calcanhar do seu irmão. Eles cresceram; Esaú tornou-se um caçador, mas Jacó era um homem mais caseiro, pacato. Um belo dia Esaú volta do campo com fome e pede a Jacó um pouco da comida que este estava preparando. Jacó, então, faz uma proposta ao seu irmão: ele daria a comida em troca do "status" de primogênito. "Disse Esaú: 'Estou quase morrendo. De que me vale esse direito? Jacó, porém, insistiu: 'Jure primeiro!' Ele fez um juramento, vendendo o seu direito de filho mais velho a Jacó" (Gn 25:32,33). É aqui que eu começo.
Esaú se propôs a aceitar a oferta porque agiu baseado em um instinto, uma necessidade do corpo (comer), e não parou pra pensar (permitam-me) na estupidez que estava fazendo: trocar o seu direito de primogenitura, e, consequentemente, a benção de Deus, por um prato de lentilhas!Quantas vezes nós, jovens, somos tentados e caímos no erro de trocar uma promessa de Deus por algo que nos queremos "pra hoje e agora"? Achamos que aquilo é o máximo, que é a solução total para os nossos problemas, e depois vemos como aquilo era ridículo e ineficaz. Nos decepcionamos com tudo e todos (até Deus cai no bolo), ficamos tristes e ainda perdemos uma promessa do Pai. Na hora da escolha, agimos com base na "fome" e na "sede", deixando que a proposta do mundo encha nossos olhos (leia-se: nossos sentidos) e devoramos tudo num estalo. Depois percebemos o erro, e, como Esaú, gritamos e, aos prantos, pedimos que o Pai reconsidere a questão.
E Esaú ainda foi dramático: "Estou quase morrendo (...)". Estava mesmo? No versículo 27 vemos que ele era um caçador habilidoso que vivia percorrendo os campos. Ora, Esaú não era fraco e nem inexperiente em passar "apertos" nas matas; será que não havia nele um mínimo de forças? Não havia nem um pingo de resistência para que ele falasse que estava morrendo?
Fome ele deveria estar sentindo, com certeza; porém, não a esse ponto. E vejam só! Não é isso mesmo que nós fazemos? Oramos assim: "Senhor, preciso urgentemente de um emprego, ou então, não sei o que vou fazer com a minha vida!" Ou então: "Deus, preciso me casar 'ontem'! Não posso esperar mais! Preciso de um(a) esposo(a) imediatamente! Preciso casar!" (esse tipo deve ser bem mais frequente...). Você por acaso vai MESMO morrer se não arrumar um trabalho? Você nasceu trabalhando? Ou será que você precisa MESMO se casar logo, ou caso contrário, vai definhar até secar? Você nasceu casado, ligado a alguém (sem ser a sua mãe) pra que possa sobreviver? Todos esses pedidos são válidos, corretos e saudáveis; entretanto, fazemos um "drama" em torno deles tão grande pra nos justificar diante de Deus (como se Ele não nos conhecesse mais do que nós mesmos...) que parece que a vida e a morte oscilam entre o atendimento desses pedidos e suas rejeições.
Deus nos ama com amor inexplicável, e Ele têm vontade de realizar todos os nossos desejos. Sua Palavra é onde encontramos todas as riquezas que Ele quer colocar em nossas mãos; contudo, devemos aguardar o tempo certo e viver de forma condizente com a fé que temos, como quem espera algo que certamente chegará. "Não coloque o carro na frente dos bois"; faça sua parte e Deus fará a dEle.
Jovem, Deus quer que você seja realizado profissionalmente, que viva uma grande história de amor por toda a vida; enfim, que você desfrute de uma vida plena.Teha certeza absoluta disso. Confie nEle: não troque suas bençãos por um prato de lentilhas. Mais vale uma única promessa de Deus em nossas mãos do que TODAS as ofertas que o mundo puder apresentar.
A Ele sejam a glória e o louvor por toda a eternidade. Amém.
"Incomparáveis são Tuas promessas..."

22 de novembro de 2008

INSATISFAÇÃO COM O TRABALHO

Todos nós, em algum momento da vida, passamos pela crise da “empregabilidade”. Essa crise se resume ao fato de, ou estar trabalhando, porém, insatisfeito com o trabalho; ou de estar desempregado e sonhando com o emprego ideal. Em muitos casos, esse trabalho que hoje causa insatisfação, amanhã será lembrado com boas recordações; e o emprego ideal, será percebido apenas como um modelo imaginário, bem distante da realidade.
Olhando para trás, lembro-me de um sonho que eu tinha de trabalhar em uma loja em algum dos shoppings da minha cidade. Nem sei porque desejava isso... Talvez fosse pelo movimento frenético de pessoas entrando e saindo, ou talvez pela quantidade de luzes naquele ambiente, ou quem sabe por ser ali os passeios da minha adolescência. O fato é que consegui realizar esse sonho. Quem dera não tê-lo sonhado, mas já que sonhei não me arrependo de ter vivido. Só posso dizer que shopping centers são ótimos para passeio.
Quando chegamos à idade adulta e começamos a enxergar as coisas com o olhar da razão, e abandonamos a emoção frívola – aquela sem valor e que só atrapalha – iniciamos um processo mental de descobrir como ganhar dinheiro; o mesmo que irá proporcionar ter carro, casa e família. É nessa fase da vida onde alguns se perdem em desventuras, por darem ao dinheiro maiores definições do que ele realmente tem. Dinheiro é um meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Assim será sempre meio, nunca um fim em si.
Ter um bom emprego é um bom meio para ter um bom dinheiro e adquirir bens. Então o negócio é estar bem empregado? È uma das formas. Com isso em mente, dar-se inicio a uma corrida desenfreada por qualificação técnica, para ser um bom candidato a boas vagas de emprego que o mercado oferece. É nesse momento que vem a crise falada anteriormente, pois nem sempre o mercado oferece vagas para bons candidatos, muito menos, boas vagas. Somos obrigados a aceitar a primeira que aparece, mas com total insatisfação.
É bem verdade que nem todos passam pela crise e pelas insatisfações movidas por ela. Sempre há os que se safam da avalanche. Esses são os que conseguem boas vagas em bons empregos. Em um país onde a injustiça se derrama como água, “esses” nem sempre são os “melhores”. Os satisfeitos não duram muito tempo nesse estado de satisfação. Logo vem a primeira “crise do bom emprego”. Essa se configura pela insegurança da instabilidade empregatícia, ou vice-versa. “Não importa se faço o que gosto e ganho um bom dinheiro, se não tenho certeza de que meu emprego será mantido”; assim pensam alguns dos ex-satisfeitos. Nesse momento começa uma nova corrida: emprego público. “Agora sim! Pode ter a maior crise mundial, mas sei que daqui ninguém me tira!”. Os concurseiros que se baseiam apenas na estabilidade que o emprego público proporciona, correm um sério risco de entrar na estatística dos insatisfeitos.
Bons empregos são feitos de razão, desejo e fé. A razão nos faz enxergar que o dinheiro é muito importante, mas que nem tudo são flores em um ambiente de trabalho. O desejo nos impulsiona a agarrar as oportunidades, e aquece a paixão pelo que fazemos. A fé entra em ação quando a razão entra em “parafuso” e o desejo tira férias; isso, inevitavelmente, vai acontecer um dia. É a hora do fantasma da insatisfação, que sem a fé, domina as mentes; com a fé, desaparece. Esse recado é para os crentes em Jesus de plantão, que mesmo tendo um Deus que veste as ervas do campo e alimenta os pássaros, ainda temem a falta de emprego ou do que quer que seja. Insegurança e instabilidade deixem para os que não têm um Deus Supridor de necessidades. O nosso Deus é socorro bem presente; sabe o que isso significa? Que se você um dia precisar, Ele já estará lá. Descansar em Deus é crer com o coração que se alguém te desempregar, Ele não te desamparará; pelo contrário, te dará guarida e satisfação plenamente verdadeira.

13 de novembro de 2008

"Jogue duro e Deus lhe ajuda!"

Andar de ônibus tem o seu lado bom e o seu lado ruim. Este lado acredito que todos os que se utilizam do transporte público conhecem tão bem quanto eu: a demora dos carros, os "aperto", a passagem que sempre aumenta, e tantos outros fatores que encheriam tranquilamente mais umas 20 ou 30 linhas. Todavia, como disse, há um lado bom nisso, pois me sinto experimentando a vida como ela é, sem fantasias ou idealizações. Aprendo com aquilo que vejo e ouço lá dentro, pois lá vemos as pessoas "de verdade", e não aquelas falsamente forjadas para marketing. Quem se isola se rebela contra a sensatez (Pv. 18); logo, ao se conviver com outros adquire-se sabedoria. Acredito que há um lado bom em tudo o que acontece em nossas vidas; o que cabe a nós é ter sabedoria para aprender com aquilo que vemos, ouvimos, fazemos ou não fazemos, lembrando sempre de jogar fora o que é ruim e reter apenas aquilo que é bom, conforme nos ensina a Palavra em 1Ts. 5:21. A vida é curta demais pra se aprender tudo apenas com a nossa experiência; ser sábio também é saber extrair ensinamentos com as vidas alheias, suas histórias, suas ações.
Era em torno de meio-dia e o "busão" não estava aquela lata de sardinha, mas tinha a sua "cota de enchimento" razoável. Graças a Deus eu consegui ir sentado, e do meu lado estavam sentados dois senhores, ambos aparentemente na casa dos 50 anos, com roupas simples e usadas, um modo de falar tipicamente nosso, cheio de gírias e "oxentizado", daqueles que nos fazem rir sem parar (eu mesmo ri que me acabei em muitos trechos da conversa). Enfim, dois homens muito comuns.
Começaram a conversar sobre os mais diversos assuntos, tais como a chegada de Lula ao poder, os nomes dos "guris" hoje em dia estarem se americanizando, a criminalidade, etc. Mas um desses tópicos da prosa entre os cumpadres foi que me fez ouvir com mais atenção ainda. O que estava ao meu lado começou a contar sobre sua vida, dizendo que quando era criança o governo não dava passagem de ônibus, nem livros, nem bolsa-escola, nem nada, e hoje as crianças tem tudo isso nas mãos e a maior parte delas não tem um mínimo de compromisso com seu futuro e com seus estudos. O outro então comentou: "-Mas alguns deles [das crianças e das pessoas em geral] não tem como ir pra escola porque não têm dinheiro". Nessa hora achei que o outro ia baixar a bola com um argumento tão realístico e forte, e pensei que a réplica seria em um tom tipo "É né? É assim mesmo, fazer o quê?". Fui surpreendido quando a resposta veio: "- Eles podem não ter dinheiro, nem roupas, mas eles tem 'coisa' muito melhor. Deus não lhe deu dois braços? Não lhe deu duas pernas? Não lhe deu vida? Pois então, ser humano, vá atrás do que você quer! Vá trabalhar! Você acha que Deus vai ficar mandando as coisas pra você sem que você faça nada?! Num é assim não, ser humano! Jogue duro que Deus lhe ajuda!". Aquilo foi uma bomba. Fiquei impressionado com tanta coisa condensada em uma só resposta. Acho que eu poderia tranquilamente escrever mais uns 2 ou 3 textos sobre aquilo, tamanha sabedoria contida naquele comentário. Comfesso que no exato momento eu desconfiei daquele senhor, pois eu não tinha aceitado aquilo prontamente, mas depois eu percebi que ele estava certo.
Quando aceitamos a Cristo como Senhor e Salvador, nos tornamos filhos de Deus e entramos em uma igreja, desenvolvemos uma forte tendência de achar que tudo agora será fruto única e exclusivamente das ações de Deus, afinal, Ele cuida de nós, não é mesmo? E com esse pensamento acabamos ficando inertes, parados, com as mãos abertas e olhando para o céu, orando e pedindo sempre mais, e nos esquecemos de como Deus é bondoso por já ter nos dado muito mais do que merecemos e de como ele é justo.
O que mais me chamou atenção foi relembrar um princípio, uma lei que Deus institui no Universo: o princípio da semeadura, ou seja, o colher aquilo que se planta (Newton também descobriu isso lá na Física e chamou de Lei da Ação e Reação). Eu não vou conseguir nada na vida se não empenhar minhas forças e meu tempo naquilo que eu desejar. Só um exemplo, em um concurso, Deus não vai me dar a vaga de alguém que estudou mais do que eu, se dedicou e se empenhou mais do que eu só porque eu sou filho dEle e o outro não é. Deus é justo e não faz nepotismo, nem simples, nem cruzado, nem de jeito algum. Todas as ferramentas que precisamos pra vencer o Senhor já nos deu, e ainda mais! A vitória já pertence a nós, porque Jesus já venceu o mundo (Jo 16:33); apenas o que nos resta é lutar, usar os nossos dois braços e duas pernas (como disse aquele senhor) e perseguir nossos alvos. Tudo aquilo que vier às minhas mãos para que eu faça, devo fazer com toda a minha força (Ec 9:10).
Jovem, não se iluda; se você quer ter sucesso na sua vida, em qualquer aspecto que seja, plante, ou seja, invista, trabalhe, gaste tempo, dinheiro e qualquer outro recurso nisso, e Deus proverá o colhimento. Creia na sua vitória, "jogue duro e aí Deus lhe ajuda".

12 de novembro de 2008

Comportamento Isaque e Rebeca




Os fatos narrados em Gênesis 24 ocorreram quando Abraão tinha 140 anos. Encontrando-se em avançada velhice, o patriarca se mostrou preocupado com o futuro do filho, Isaque, que continuava solteiro. Aos 40 anos, ele ainda era jovem, levando-se em conta a expectativa de vida naquele tempo. Então, Abraão mandou que seu servo Eliezer se dirigisse à Mesopotâmia e buscasse uma mulher para o filho. Tal atitude estava coerente com os costumes da época, no contexto das prerrogativas patriarcais.

A PESSOA CERTA

Abraão não sabia quem seria a esposa de Isaque, mas de uma coisa ele estava convicto: não poderia ser uma mulher cananéia (Gn 24.3). Os cananeus eram descendentes de Cão (Gn 9.18), um povo idólatra e amaldiçoado. Abraão estava zelando por sua linhagem. Ele não queria que Isaque se casasse com uma mulher ímpia, mas com uma serva de Deus. Por isso, enviou Eliezer à Mesopotâmia. Ali moravam os parentes de Abraão. Alguns deles serviam ao Senhor. Temos evidências nesse sentido em Gênesis 24.31,50. O nome do pai de Rebeca era Betuel, que significa “homem de Deus”. Isto não seria uma casualidade, pois, naquele tempo, os nomes eram colocados levando-se em consideração seu significado.

Isaque precisava se casar com uma serva de Deus. A união com uma mulher cananéia seria uma situação de jugo desigual. O resultado seria um lar dividido, com dificuldades na orientação dos filhos, e outros problemas diversos e imprevisíveis. Muito tempo depois, males desse tipo foram experimentados por Esaú (Gn 26.34-35; 27.46; 28.1-2.) e Judá (Gn 38.1-10).
Abraão poderia ter dito: “Isaque, escolha uma mulher cananéia. Nós vamos ‘evangelizá-la’. Ela se converterá e o seu lar será uma bênção. Vamos fazer isso pela fé, meu filho”.
Nada disso. O patriarca não confundia imprudência com fé. Evitar o problema é melhor do que planejar soluções.

O servo ou serva de Deus que se entrega a relacionamentos amorosos com o ímpio está se colocando em situação de alto risco, sujeitando-se a tentações e tribulações desnecessárias.
É verdade que, em casos excepcionais, algumas relações desse tipo conduzem à conversão da parte incrédula. Muitas, porém, causam o desvio do crente. Sansão, por exemplo, teve sua vida e ministério destruídos por relacionamentos errados (Jz 14.1-2; 16.1; 16.4-18).
Quais são os critérios para a escolha de um companheiro ou companheira? Aparência física? Condição econômica? Nível cultural? Vários fatores podem ser importantes ou não, mas o principal é saber se a pessoa pretendida serve ao Senhor.
Não estamos falando de procurar a pessoa perfeita, mas de minimizar a possibilidade de se envolver com pessoas e situações que venham prejudicar ou inviabilizar a estrutura do novo lar.

O LUGAR CERTO

Eliezer procurou esposa para Isaque:
- Numa região específica, a Mesopotâmia.
- Na família certa, entre os parentes de Abraão.
- No lugar certo: o poço, um local de trabalho.
- Na hora certa, à luz do dia.

Tais elementos, ainda que não sejam normativos, ajudaram muito na definição do tipo de pessoa que seria encontrada. Se Eliezer fosse a uma festa noturna no Egito, talvez retornasse trazendo uma odalisca. É difícil encontrar uma flor perfumada dentro do esgoto. Talvez você não esteja procurando alguém, mas frequenta lugares errados para se divertir. Então poderá encontrar o que não procura, ou até mesmo ser encontrado. Situação desse tipo foi vivida por Diná, filha de Jacó, que acabou sendo vítima de um estupro (Gn 34.1-26).

AÇÃO DIVINA

Apesar das instruções de Abraão e do zelo de Eliezer, a missão poderia dar errado. É muito difícil escolher uma pessoa, pois o ser humano é passível de engano. Por isso, Eliezer, que também era um crente, dependia totalmente de Deus. Ele não confiava em sua própria sabedoria. O servo orou, pedindo a bênção e a orientação por meio de um sinal (Gn 24.12). O Senhor atendeu, enviando Rebeca ao lugar certo, na hora certa.
Todo aquele que procura uma companheira precisa depender de Deus, orando, crendo e esperando.

O SINAL

Eliezer não pediu que Deus mandasse uma moça alta ou baixa, gorda ou magra, loira ou morena, de cabelos compridos ou curtos. Ele estava preocupado com atitudes que manifestassem virtudes do caráter.

“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede ao de jóias preciosas.” (Pv 31.10).

Esperar que alguma moça fosse tirar água do poço seria algo simples e normal naquela época. Entretanto, Eliezer consideraria aquela que, além de lhe oferecer água, também desse de beber aos seus dez camelos. Ele pediu algo difícil e improvável, que não aconteceria por acaso. Dessedentar todos aqueles animais seria uma tarefa árdua. Um camelo pode viajar durantes dias no deserto sem beber água, mas, quando bebe, precisa de muitos litros.

Buscar água no poço era dever das mulheres. Rebeca, porém, estava disposta a fazer muito mais do que a sua obrigação. Não ficou limitada ao mínimo necessário, mas procurou fazer o máximo que estava ao seu alcance.
O texto diz que ela serviu a água “prontamente” (Gn 24.18, 46), demonstrando qualidades desejáveis numa esposa: bondade, iniciativa, prestatividade e disposição para o trabalho (Gn 24.14). A moça realizou a tarefa até o fim, não parando diante da dificuldade ou por preguiça.

A VIRGINDADE

Além das qualidades já mencionadas, Rebeca era formosa e virgem (Gn 24.16). A virgindade demonstra que a moça soube esperar pelo tempo certo para iniciar sua vida sexual. É verdade que muitas pessoas, quando se convertem, já viveram muitas experiências sexuais fora do matrimônio. Deus as perdoa e purifica. Entretanto, aqueles que servem ao Senhor e ainda são virgens, sejam homens ou mulheres, têm a grande honra e dever de se preservarem para o casamento, evitando que, no futuro, tenham que lutar contra lembranças, mágoas, sentimento de inferioridade, elementos de comparação e outras consequências negativas.

“Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição.” (1Ts 4.3).

A virgindade perdeu o seu valor na sociedade moderna. Contudo, os valores do cristão devem ser regidos pela Palavra de Deus e não pelo mundo.
Se Isaque e Rebeca tivessem relacionamentos anteriores com outras pessoas, talvez a união dos dois não viesse a ser concretizada. Vínculos errados podem se tornar empecilhos para as uniões legítimas.

A ESCOLHA

A esposa de Isaque não foi escolhida por ele, nem por Abraão, nem por Eliezer, mas por Deus. Acabou-se o livre-arbítrio? De modo nenhum (1Co 7.39). O texto mostra, claramente, que Rebeca teve a oportunidade de manifestar sua vontade. Se ela não quisesse, não seria forçada a se casar com Isaque (Gn 24. 7, 8, 12, 27, 50, 58). Isaque também não seria obrigado.
Aquele que procura uma esposa, ou um marido, é livre para escolher. Entretanto, se a pessoa permitir, Deus poderá fazer a escolha. Ele ajuda a quem pede, mas não obriga ninguém.

O ENCONTRO

Rebeca renunciou à sua família e ao convívio dos pais, viajando com Eliezer em direção a Canaã. Ali chegando, encontrou-se com Isaque, que meditava no campo. Os dois se conheceram e se uniram em amor. Assim, Isaque foi consolado pela perda de sua mãe (Gn 24.67). Daquela união nasceram dois filhos: Jacó e Esaú, dos quais duas nações se formaram, dando continuidade ao cumprimento da promessa de Deus a Abraão.


::Por Anísio Renato de Andrade

Bacharel em Teologia