12 de novembro de 2008

Comportamento Isaque e Rebeca




Os fatos narrados em Gênesis 24 ocorreram quando Abraão tinha 140 anos. Encontrando-se em avançada velhice, o patriarca se mostrou preocupado com o futuro do filho, Isaque, que continuava solteiro. Aos 40 anos, ele ainda era jovem, levando-se em conta a expectativa de vida naquele tempo. Então, Abraão mandou que seu servo Eliezer se dirigisse à Mesopotâmia e buscasse uma mulher para o filho. Tal atitude estava coerente com os costumes da época, no contexto das prerrogativas patriarcais.

A PESSOA CERTA

Abraão não sabia quem seria a esposa de Isaque, mas de uma coisa ele estava convicto: não poderia ser uma mulher cananéia (Gn 24.3). Os cananeus eram descendentes de Cão (Gn 9.18), um povo idólatra e amaldiçoado. Abraão estava zelando por sua linhagem. Ele não queria que Isaque se casasse com uma mulher ímpia, mas com uma serva de Deus. Por isso, enviou Eliezer à Mesopotâmia. Ali moravam os parentes de Abraão. Alguns deles serviam ao Senhor. Temos evidências nesse sentido em Gênesis 24.31,50. O nome do pai de Rebeca era Betuel, que significa “homem de Deus”. Isto não seria uma casualidade, pois, naquele tempo, os nomes eram colocados levando-se em consideração seu significado.

Isaque precisava se casar com uma serva de Deus. A união com uma mulher cananéia seria uma situação de jugo desigual. O resultado seria um lar dividido, com dificuldades na orientação dos filhos, e outros problemas diversos e imprevisíveis. Muito tempo depois, males desse tipo foram experimentados por Esaú (Gn 26.34-35; 27.46; 28.1-2.) e Judá (Gn 38.1-10).
Abraão poderia ter dito: “Isaque, escolha uma mulher cananéia. Nós vamos ‘evangelizá-la’. Ela se converterá e o seu lar será uma bênção. Vamos fazer isso pela fé, meu filho”.
Nada disso. O patriarca não confundia imprudência com fé. Evitar o problema é melhor do que planejar soluções.

O servo ou serva de Deus que se entrega a relacionamentos amorosos com o ímpio está se colocando em situação de alto risco, sujeitando-se a tentações e tribulações desnecessárias.
É verdade que, em casos excepcionais, algumas relações desse tipo conduzem à conversão da parte incrédula. Muitas, porém, causam o desvio do crente. Sansão, por exemplo, teve sua vida e ministério destruídos por relacionamentos errados (Jz 14.1-2; 16.1; 16.4-18).
Quais são os critérios para a escolha de um companheiro ou companheira? Aparência física? Condição econômica? Nível cultural? Vários fatores podem ser importantes ou não, mas o principal é saber se a pessoa pretendida serve ao Senhor.
Não estamos falando de procurar a pessoa perfeita, mas de minimizar a possibilidade de se envolver com pessoas e situações que venham prejudicar ou inviabilizar a estrutura do novo lar.

O LUGAR CERTO

Eliezer procurou esposa para Isaque:
- Numa região específica, a Mesopotâmia.
- Na família certa, entre os parentes de Abraão.
- No lugar certo: o poço, um local de trabalho.
- Na hora certa, à luz do dia.

Tais elementos, ainda que não sejam normativos, ajudaram muito na definição do tipo de pessoa que seria encontrada. Se Eliezer fosse a uma festa noturna no Egito, talvez retornasse trazendo uma odalisca. É difícil encontrar uma flor perfumada dentro do esgoto. Talvez você não esteja procurando alguém, mas frequenta lugares errados para se divertir. Então poderá encontrar o que não procura, ou até mesmo ser encontrado. Situação desse tipo foi vivida por Diná, filha de Jacó, que acabou sendo vítima de um estupro (Gn 34.1-26).

AÇÃO DIVINA

Apesar das instruções de Abraão e do zelo de Eliezer, a missão poderia dar errado. É muito difícil escolher uma pessoa, pois o ser humano é passível de engano. Por isso, Eliezer, que também era um crente, dependia totalmente de Deus. Ele não confiava em sua própria sabedoria. O servo orou, pedindo a bênção e a orientação por meio de um sinal (Gn 24.12). O Senhor atendeu, enviando Rebeca ao lugar certo, na hora certa.
Todo aquele que procura uma companheira precisa depender de Deus, orando, crendo e esperando.

O SINAL

Eliezer não pediu que Deus mandasse uma moça alta ou baixa, gorda ou magra, loira ou morena, de cabelos compridos ou curtos. Ele estava preocupado com atitudes que manifestassem virtudes do caráter.

“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede ao de jóias preciosas.” (Pv 31.10).

Esperar que alguma moça fosse tirar água do poço seria algo simples e normal naquela época. Entretanto, Eliezer consideraria aquela que, além de lhe oferecer água, também desse de beber aos seus dez camelos. Ele pediu algo difícil e improvável, que não aconteceria por acaso. Dessedentar todos aqueles animais seria uma tarefa árdua. Um camelo pode viajar durantes dias no deserto sem beber água, mas, quando bebe, precisa de muitos litros.

Buscar água no poço era dever das mulheres. Rebeca, porém, estava disposta a fazer muito mais do que a sua obrigação. Não ficou limitada ao mínimo necessário, mas procurou fazer o máximo que estava ao seu alcance.
O texto diz que ela serviu a água “prontamente” (Gn 24.18, 46), demonstrando qualidades desejáveis numa esposa: bondade, iniciativa, prestatividade e disposição para o trabalho (Gn 24.14). A moça realizou a tarefa até o fim, não parando diante da dificuldade ou por preguiça.

A VIRGINDADE

Além das qualidades já mencionadas, Rebeca era formosa e virgem (Gn 24.16). A virgindade demonstra que a moça soube esperar pelo tempo certo para iniciar sua vida sexual. É verdade que muitas pessoas, quando se convertem, já viveram muitas experiências sexuais fora do matrimônio. Deus as perdoa e purifica. Entretanto, aqueles que servem ao Senhor e ainda são virgens, sejam homens ou mulheres, têm a grande honra e dever de se preservarem para o casamento, evitando que, no futuro, tenham que lutar contra lembranças, mágoas, sentimento de inferioridade, elementos de comparação e outras consequências negativas.

“Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição.” (1Ts 4.3).

A virgindade perdeu o seu valor na sociedade moderna. Contudo, os valores do cristão devem ser regidos pela Palavra de Deus e não pelo mundo.
Se Isaque e Rebeca tivessem relacionamentos anteriores com outras pessoas, talvez a união dos dois não viesse a ser concretizada. Vínculos errados podem se tornar empecilhos para as uniões legítimas.

A ESCOLHA

A esposa de Isaque não foi escolhida por ele, nem por Abraão, nem por Eliezer, mas por Deus. Acabou-se o livre-arbítrio? De modo nenhum (1Co 7.39). O texto mostra, claramente, que Rebeca teve a oportunidade de manifestar sua vontade. Se ela não quisesse, não seria forçada a se casar com Isaque (Gn 24. 7, 8, 12, 27, 50, 58). Isaque também não seria obrigado.
Aquele que procura uma esposa, ou um marido, é livre para escolher. Entretanto, se a pessoa permitir, Deus poderá fazer a escolha. Ele ajuda a quem pede, mas não obriga ninguém.

O ENCONTRO

Rebeca renunciou à sua família e ao convívio dos pais, viajando com Eliezer em direção a Canaã. Ali chegando, encontrou-se com Isaque, que meditava no campo. Os dois se conheceram e se uniram em amor. Assim, Isaque foi consolado pela perda de sua mãe (Gn 24.67). Daquela união nasceram dois filhos: Jacó e Esaú, dos quais duas nações se formaram, dando continuidade ao cumprimento da promessa de Deus a Abraão.


::Por Anísio Renato de Andrade

Bacharel em Teologia

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