6 de novembro de 2009

Filhos de Deus sem saber!


"Eu gosto do seu Cristo... mas não de seus cristãos. Seus cristãos são tão diferentes de Cristo!". Essa frase-paulada é de Mahatma Gandhi, quando perguntaram a ele o porquê dele não se tornar um cristão, já que era tão admirador de Jesus e freqüentemente usava trechos dos Evangelhos para basear sua (impressionante) história de vida.
Essa frase abriga toneladas de ensinamentos preciosíssimos e verdadeiros, os quais precisam ser urgentemente assimilados por todos SEM exceção (eu fui o primeiro a levar a paulada), mas especialmente aos que se auto-entitulam "Crentes/Evangélicos".
Antes, contudo, de iniciar de verdade, lanço a pergunta-mestra desse texto: "O que faz alguém ser filho de outra pessoa?"
Minha resposta é: ora, alguém é reconhecido como "filho de fulano de tal" quando age parecido com o seu pai/mãe. Muitas pessoas podem se parecer fisicamente comigo, embora eu não possua nenhum vínculo sanguíneo ou afetivo com elas. Outras podem me reconhecer como sendo filho de minha mãe simplesmente porque ouviram falar isso o tempo todo, mesmo que não conheçam nem ela nem eu para poder ter o que comparar, e assim reproduzem a estorinha. Ora, se assim fosse, filhos adotivos (que não deixam de ser filhos) teriam seu DNA transmudado com o passar de anos e anos ouvindo que seus pais "legítimos" são aqueles que ele vê todo dia. Pra mim, a verdadeira filiação é definida pelo amor;portanto, adotivos e biológicos são todos iguais, mas o nosso tema aqui não é esse. O que quero dizer é que, sob minha ótica, alguém é necessariamente filho de outra pessoa quando se PARECE com o pai/mãe, tanto em aspectos fenotípicos (aparência), mas, acima de tudo, pelo modo como age/pensa/vive/fala/coça a cabeça/ronca/gosta de pescar, e tantas outras coisas que herdamos de nossos genitores.
E quem são os filhos de Deus? Os que possuem carteirinha de membro de alguma denominação responderão uníssonos: "São filhos de Deus os que aceitaram Jesus!" Muito bem! Vão ganhar uma bala do tio! Hahaha! Mas é isso aí mesmo: Filhos de Deus são os que aceitaram (e continuam aceitando todos os dias!) Jesus como sendo o Mestre de suas vidas, o Professor da existência, o Senhor de tudo.
Muito bonitinho, de fato. Todavia, como isso se traduz em termos mais concretos e menos teóricos? Vejamos.
Deus é eternamente Bom. Sempre foi. Sempre será. Assim, todo aquele que faz o Bem é Filho de Deus, porque quem faz o bem faz o que Deus faz. E fazer o bem a quem? A todos! Porque é assim que Ele é! Jesus disse para amarmos até os nossos inimigos, e assim seríamos Filhos do Pai celeste, pois ele faz raiar o Sol dEle sobre maus e bons e derrama chuva sobre a terra de justos e de injustos (Mt.5:43-48). Decodificando isso em ações efetivas, Deus revelou a Isaías (cap. 58:5-9) qual o jejum que O agrada de verdade: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos, partilhar sua comida com os famintos, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrar e não recusar ajuda ao próximo! Isso sim é que é jejum pra Deus! Portanto, quem faz o bem genuíno, o qual é livre de segundas intenções, puro, sem almejar “recompensas” pela bondade (que não é mais bondade, é barganha com o invisível), sem se importar com o anonimato, fazendo o bem apenas por fazer, esse sim age em sincronia com o Pai, vive semelhante a Deus, de acordo com Sua vontade.
Mas e o “aceitar Jesus”?! Seria fazer o bem uma negação da Maestria de Cristo? Algo como criar um novo caminho que guie até Deus, paralelo ao Caminho que é Cristo?
Ora, aceitar a Jesus como Senhor e Mestre é ser seu discípulo. E o próprio explicou diversas vezes que ser discípulo dele é obedecer aos seus mandamentos e permanecer firmes neles (Jo 8:31; Jo 14: 21-24). E qual o maior mandamento de Cristo?
“O MEU mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu vos amei”!!! (Jo 15-12).
A parábola do Bom Samaritano, tão famosa, ensina que aquele que ama o próximo é o que pode ser chamado de Filho de Deus. O samaritano não tinha uma boa imagem perante os “santos”, nem tinha “rótulo” eclesiástico nenhum; entretanto, foi ele quem encarnou Deus na vida do homem ferido no meio da estrada, cuidando das suas feridas. Foi ele quem fez o que deveria ter sido feito. Os “homens de Deus” e “santos” fingiram que não estavam vendo nada e passaram em largo (será que hoje não acontece o mesmo?). Fazer o bem é tratar o outro do modo como eu gostaria de ser tratado.
O próprio Jesus Cristo, fundador do Cristianismo (?), ensinou aos seus discípulos o que haverá de acontecer no dia em que todos os seres humanos - vivos, mortos, ou vindouros - terão a justa recompensa de suas ações nessa vida.
Mateus registrou (Mt. 25: 31-46) um ensinamento de Jesus que revela o peso do que tenho dito até aqui. Jesus ensinou que o Rei (ele mesmo), no Dia do Julgamento, dirá às ovelhas (seus discípulos): "Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu TIVE FOME E VOCÊS ME DERAM DE COMER; TIVE SEDE E ME DERAM DE BEBER; FUI ESTRANGEIRO VOCÊS ME ACOLHERAM; NECESSITEI DE ROUPAS E VOCÊS ME VESTIRAM, ESTIVE ENFERMO(!), E VOCÊS CUIDARAM DE MIM; ESTIVE PRESO(!) E VOCÊS ME VISITARAM".
Percebam que isto que foi dito é um recado atemporal, endereçado à Humanidade inteira, e é uma sinopse do que acontecerá naquele Dia, dia que ainda não veio, quando estarão presentes todos os seres humanos, inclusive eu e você, que vivemos cerca de dois mil anos após esse recado ser dado. Todavia, aqui é que vem a bomba: Sabendo que Jesus teve discípulos desde sempre, e que tem e sempre terá até que Tudo termine, como é que alguém pode dar comida a Jesus, se ele esteve aqui em carne e osso há milênios atrás? Como é que eu posso dar comida a Jesus, se eu vivo no Brasil dois mil anos depois que ele viveu na Terra? Outra coisa: Jesus sentia fome, e isso é óbvio, porque ele era Divino em uma casca de carne, era Deus em uma embalagem de gente. Mas ele ainda sente fome, sendo espírito e estando ao lado de Deus?? Jesus com sede? Jesus nu?! Jesus preso?!
A dúvida será monstruosa e os que entrarão no Reino ficaram atordoados, e, por isso, perguntarão: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?”. Os justos na parábola SEQUER SABIAM QUANDO TINHAM SERVIDO A DEUS!!
Então o Rei responderá: “O que vocês fizeram a ALGUM DOS MEUS MENORES IRMÃOS, A MIM FIZERAM”!!! O jejum que Isaías escreveu encaixa-se aqui.
Logo após, Jesus fala dos que NÃO fizeram absolutamente nada em prol dele, achando que já estavam com a casa no Céu toda mobiliada e o chão encerado, só esperando-os...
Agora, imaginem esta cena que direi agora(sério mesmo!) e terão uma idéia de quão esmagadoramente terrível/surpreendente será o Dia em que as pessoas receberão conforme seus atos.
Muitos “pastores, padres, bispos, missionários, apóstolos, profetas, cardeais, papas(!), gurus, sábios, teólogos, doutores em divindade, líderes de congregações, irmãos santos e cheios do fogo e da unção”, MUITOS deles, quando forem cruzar os umbrais das portas do Reino, encherão o peito de orgulho (“santo”, claro!), erguerão altivos a cabeça e caminharão triunfantes até a porta. O próprio Jesus estará lá, abrindo caminho e dando passagem aos que perseveraram até o fim.
Porém, ao pisarem o primeiro pé através da porta, Jesus (sim, Jesus!) colocará a mão em seus peitos, como um leão-de-chácara e perguntará:
“– Desculpa amigo... Pra onde você vai?
- Como assim, Senhor? Estou indo pra o Céu, para o Reino que me é por direito! Eita GlóóÓÓriaaaAAasss!
- Deve haver algum engano aqui, amigo... Você não vai entrar.
- Como assim, Senhor?? Eu era um grande (título eclesiástico a preencher) na igreja! Eu fazia (atividades eclesiásticas a preencher)! Até expulsei demônios (ou encostos, a depender da denominação!) em Teu nome, Jesus!
- Amigo, vou-te dizer pela última vez: Eu NUNCA te vi e NUNCA te conheci! Afaste-se, por favor! Aqui não é seu lugar....”
É assim que será! Está me achando muito imaginador ou radical? Leia você mesmo Mateus 7:21-23 e veja se estou mentindo!
Faça o bem, ame ao próximo como a ti mesmo, sempre consciente de que isso é amor a Deus concretizado, visível. Assim você será inevitavelmente Filho de Deus e co-herdeiro do Reino com Cristo (mesmo que nunca tenha ouvido falar dele!). Igrejas não te fazem ir ao Céu; SER uma igreja sim! Viva como Cristo viveu e você será igreja ambulante e viva de Deus no mundo.
O que aqui está dito é o Evangelho, e é gravemente sério. Já escrevi demais. Paro por aqui. Desejo aos (às) valentes que leram até aqui que o Espírito Santo confirme em cada um o que aprouver a Ele.
Paz seja com todos!
Obs: Esse texto é em homenagem especial a Lealdo de Góis Andrade, amado "brother" de longa data, que está distante em termos geográficos, mas muito perto pelos laços invisíveis do companheirismo da Amizade.

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