6 de novembro de 2009

Por que as pessoas casam e por que elas se separam


Casar é o sonho de nove entre cada dez mulheres, e não é preciso recorrer a nenhum instituto de pesquisa para confirmar tal constatação, basta observar o modo como elas organizam sua vida, para ter, finalmente, o grande dia. Mas, entre os homens, o casamento, geralmente não é uma prioridade. De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2007, para cada quatro casamentos registrados no Brasil, um terminou em divórcio. Entretanto, curiosamente, o número de pessoas que se casam no país tem aumentado a cada ano. "A instituição casamento é ainda a mais importante de todas", afirma o psicólogo Alexandre Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami e em ansiedade e pânico pela Universidade da Califórnia. Nessa entrevista, o psicólogo e analista, que atende em consultórios desde 1993, diz que o casamento, ao contrário do que muitos pensam, não possui o poder de melhorar as relações.

Segundo o IBGE o número de divórcios no Brasil aumentou nos últimos anos, mas aumentou também o número de novos casamentos. Mais casamentos não dão certo e ao mesmo tempo mais pessoas se casam. Por quê?
A:
A instituição casamento, é ainda a mais importante de todas que existem. Tanto é verdade que em separações judiciais há a obrigatoriedade da presença do casal e em casos de pensão alimentícia, para os filhos, o casal estando de acordo, não há a obrigação deles comparecerem, pois é o casamento que dá o aparato e a sustentabilidade para que qualquer sociedade exista. Tem primeiro a cobrança da sociedade que vai de acordo neste sentido. As próprias mulheres são criadas desde cedo na expectativa de ter um casamento, isso colabora em aumentar esse desejo que é muito forte e crescente dentro do sexo feminino. Existe também o sonho da comemoração, da festa, enfim, existe pressão até pela industria do casar que movimenta mais de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais) por ano só em SP.


O modelo atual de casamento está ultrapassado, doutor?
A:
Caro, o modelo de casamento não está ultrapassado, o que ocorre é que as pessoas perderam a vontade de tentar e sentem-se acomodadas na relação. Este é o fator essencial pelo qual os casamentos não estão dando muito certo. Uma outra opção é a união estável para ver se vai dar certo ou ainda casais que se casam e preferem, por inúmeras razões de cunho psicológico, ter as suas próprias casas independentemente. Lembrando de que em psicologia não há regras, e o que pode ser útil a um indivíduo pode não servir ao outro.



"Casamento não estraga nada! O que estraga a relação é a imaturidade emocional presente nas pessoas"
Algumas pessoas passam por cima de problemas no relacionamento afirmando que "quando casar melhora". O casamento teria o poder de, por si só, resolver algum problema do casal?
A:
Não, jamais, a situação deve ser resolvida impreterivelmente de maneira prévia, pois posteriormente a situação tende só a piorar de maneira significativa, já que não houve a incisão na hora correta. O casamento não possui esse poder de melhorar as coisas, até porque quem faz o casamento é o casal, e a atitude de mudança deve partir deles.

Filme Noiva em fuga
Cena de Noiva em fuga (1999)

Em contrapartida, há quem diga que "casamento estraga tudo". Por que há quem tema tanto se casar?
A:
Veja, Ruleandson, casamento não estraga nada! Dentro dos compêndios de psicologia ficou mais do que evidente a importância do ter alguém, do casar e constituir uma família, o que estraga é a imaturidade emocional presente nas pessoas que contrariam o matrimônio, assim como qualquer deficiência de personalidade das mesmas. As que falam muito mal é porque podem ter tido alguma experiência desagradável ou não sabem lidar com a frustração gerada numa separação, ou ainda não sabe dividir, escutar e principalmente compartilhar. O casamento é tão sério que em separações cansei de ter casos no consultório, de pacientes com síndrome do pânico provocada apenas pela separação, pelo término.

Antes de se casar, há alguma dica para saber se o relacionamento vai dar certo?
A:
Várias! A convivência é a melhor, como pequenos passeios, viagens, para quem puder viajar, observar o gosto do outro e mostrar o seu, a participação em reuniões familiares de ambos, explorar as opiniões a cerca das coisas, sentir como se dá o carinho, a postura dos envolvidos. São muitas dicas, inclusive, abordo a relutância do indivíduo do sexo masculino em se casar assim como suas fragilidades e dificuldades em um livro que estou terminando com uma jornalista intitulado "Ele não quer se casar".

"Namorar para ver se vai dar certo pode funcionar mais do que o seu contrário"
Há uma peça de teatro que esteve recentemente em cartaz pelo país com o título "Não sou feliz, mas tenho marido". Na opinião do senhor, as pessoas se casam porque se amam ou para provar algo à sociedade?
A:
Assisti a peça, muito boa, porém ocorre a percepção nítida e até um pouco tímida de ser ela a expressão da frustração em ter terminado. Não há como responder sua pergunta, pois cada um casa por diversos motivos, desejos e anseios e se forem inconscientes fica mais laboriosa a tarefa de descobrir o por que de se casar, há muitos elementos sociais, culturais e psicológicos envolvidos.

Geralmente, antes de se casar as pessoas namoram, mas hoje até os namoros ocorrem muito rapidamente, as pessoas se conhecem e já namoram em poucos dias. O que o senhor acha melhor: ver se vai dar certo para namorar, ou namorar para ver se vai dar certo?
A:
As duas podem funcionar, não há regras, mas pela experiência de consultório, a segundo possibilidade é a mais correta, funcionando de uma maneira prática.

No começo da relação ainda não conhecemos bem o parceiro, mas ficamos muito apaixonados, somos capazes até de aceitar um pedido de namoro ou casamento de primeira. Nesse início estamos apaixonados por nós mesmos, pela outra pessoa ou pela possibilidade da relação?
A:
Quem está apaixonado consigo mesmo não consegue embarcar em nenhum outro relacionamento porque o ego não permite, a possibilidade da relação encanta, mas é a paixão que irá decidir que rumo tomar, se aceita o pedido, ou não o faz. Mas lembrando que paixão passa muito rápido e o resultado pode ser mortífero, gerando arrependimentos, já que o apaixonado não tem os sentidos operando como deveria.

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