27 de novembro de 2009

O QUE SIGNIFICA ARREPENDIMENTO?

É interessante notar como alguns crentes se utilizam da bíblia exatamente da mesma maneira que um juiz se utiliza de um código penal; ou seja, para tomar base jurídica para decretar juízo sobre a pessoa julgada. Falo como um leigo nessa área do direito, e como um eterno neófito no que tange aos aspectos bíblicos da questão (e que Deus me livre de ser um experiente escriba desses dias). Mesmo assim, veremos como Deus se utiliza de um consciente leigo e de um amadurecido novato para trazer novidade de vida aos corações dos que buscam.
Tudo quanto eu penso nessa vida tento pensar como Jesus pensaria, a luz dos evangelhos, que me mostram alguns poucos passos do Mestre quando passou por aqui (já que o próprio João, um dos escritores dos evangelhos, disse que nem todos os livros da terra caberiam para contar todos os feitos dEle). Ele, Jesus, tratou a questão do arrependimento de uma forma totalmente inovadora: Perdoando! Inovadora porque, não é hoje e nem naqueles tempos era, algo fácil de fazer. Tanto que Pedro, achando que seria um bom número de “perdãos”, indagou: “quantas vezes devo perdoar, ate sete vezes?”, e Jesus, não tratando em termos numéricos, mas em atitude de eterna reconciliação, pois é isso que significa perdão, disse: “até setenta vezes sete”. E não precisa multiplicar, a intenção era tornar o número tão maior aponto de se perder as contas de quantas vezes já se havia liberado o perdão.
Os religiosos têm sede de julgar, não de justiça! Nesse passo, desejam que as suas vítimas façam a tal confissão: “Diga o que você fez, conte pra todos nós aqui, e depois se arrependa!”. Depois da confissão, o “concílio” se reúne, e aí deliberam o futuro do coitado(a)... Talvez se apeguem ao que o apostolo Tiago disse, “confessai vossos pecados uns aos outros...”. Todavia, não é esse o entendimento, segundo o que se vê em toda a Palavra. Segundo a Palavra, se pecamos (se mentirmos, caluniarmos, ofendermos, injuriarmos) contra qualquer ser humano nessa terra, e este sofre e chora por isso, é dever nosso buscar o perdão, a reconciliação, a paz ao conflito. Voltando ao modo de Jesus de receber o arrependido, faz-se necessário lembrar alguns casos onde o mesmo desenvolveu o seu modelo/padrão de conduta. Mais especificamente, citarei três exemplos.
Vinham os fariseus com a mulher adúltera e lançaram-na aos pés de Jesus, interrogando sobre o que seria feito dela, já que a lei mandava apedreja-la. E Jesus responde: “Quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra”. Essa foi demais! A consciência de todos, jovens e velhos, os acusando, não permitiu que pedra alguma fosse lançada. Vejo algumas mulheres cristãs com tanto furor ao falar de mulheres adúlteras, que, eu creio, elas também pegariam em pedras se estivessem naquele momento histórico. Afinal, a mulher adúltera era mesmo uma mulher adúltera! Não é conto da carochinha, é história real. Aquela mulher que não foi alvo da ira de Jesus, mas do perdão dele, era, de verdade, uma mulher destruidora de lares! Até Jesus chegar e tudo mudar dentro dela. E sabe o que é sensacional? Jesus perdoou aquela mulher sem que ela tivesse aberto a boca em nenhum momento! Ela não pediu perdão, mas Ele desejou perdoa-la, pois foi pra isso que Jesus veio. O que ela fez para merecer o perdão? Nada. Quando é Jesus quem perdoa, o perdão é sempre gratuito, assim como tudo que vem dEle.
Lembro de outra mulher, outra pecadora, essa vem até Jesus enquanto Ele jantava na casa de Simão. Ninguém lhe lança aos pés dEle, ela mesma é quem se lança; chora, se quebranta, molha os pés do Mestre, e enxuga-os com suas longas madeixas. Simão, indignado com tal cena que presenciava, pensa: “Se Ele fosse o Messias saberia quem é essa que Ele permite tal aproximação”. E Jesus, clássico, humilde e Deus como sempre, responde: “... os seus muitos pecados lhes são perdoados, porque muito amou...”. Essa mulher também não disse uma palavra, assim como a outra, nada falou; mas ela percebeu quem podia perdoa-lhe os pecados.
O último exemplo vem do filho gastador, ou, como ficou conhecido pelos lados de cá, do filho pródigo. Esse pediu o seu quinhão da herança, foi à cidade, aproveitou toda efemeridade que o dinheiro pode oferecer, e no fim acabou no meio de porcos. Voltou arrependido. Voltou querendo ser servo do seu pai, pois já não se achava digno de ser filho. No caminho de volta pra casa preparou o discurso de alguém arrependido, mas nem precisou utilizar. O pai, quando o avistou ao longe, já havia decretado dentro dele: “O meu filho voltou, vou ao seu encontro, o beijarei e o encherei de afeto, pois quem havia se perdido agora foi achado”. E assim aconteceu, uma festa ao filho achado em arrependimento e de volta a vida!
Esses três casos mostram a “forma” de Jesus liberar perdão. No primeiro caso, a mulher não falou e nem expressou de nenhum modo, apenas aceitou a sua condição de pecadora diante dEle, e fez isso quando não tentou se justificar de nada, quando não tentou se defender da acusação, mas ficou ali, esperando Jesus falar o que só Ele poderia falar. E isso basta! Ficar esperando, sem falar, sem gesticular, mas aceitando que nada é e que Ele é tudo em nós. No segundo caso já foi diferente, a mulher pecadora se expressou; não falou, mas disse com as mãos, com os cabelos e com as lágrimas aqui veio. Ela foi até Ele se prostrar em arrependimento, como quem tem consciência que só Ele poderia livrá-la de tal peso. No terceiro caso, o filho da parábola teve atitude de arrependido e discurso de arrependido, mas isso não fez a menor diferença para o pai, que só queria uma chance para encontrar o filho perdido. O que quero dizer com tudo isso? Que arrependimento só se faz no coração e pra Deus não faz diferença como ou se você ira exterioriza-lo. Para Deus basta se saber pecador, se reconhecer como tal, e saber que Jesus é o Cordeiro Perfeito que tira o pecado do mundo.
Que possamos, a semelhança de Jesus, não nos preocuparmos com “a paga” pelos erros cometidos dos nossos irmãos, mas que a nossa preocupação esteja em levar o pecador para aquele que já pagou todo preço, que já derramou todo sangue, que se entregou de uma vez por todas, para que o pecado que nos escravizava já não nos escravize mais. O foco deve estar em como fazer o irmão desejar a reconciliação, pois ela aí já está, disponível a todos para quem quiser pegar. Isso não se faz com uma faca no pescoço obrigando o infrator a confessar a infração. Aliás, eu nem quero saber o que tal pessoa cometeu, só quero dizê-lo que, se ele quiser, a fiança já foi paga. “Vá em paz, e não peques mais”, disse Jesus. E que cada um de nós possa dizer como Paulo: “Dos pecadores eu sou o maior!”.

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